Quarta-feira, 6 de Janeiro de 2010

FRELIMO - Mais revelações do Inferno (3)

 

 

A MORTE DE FILIPE SAMUEL MAGAIA E AS DIVISÕES NA FRELIMO
 Entretanto morreu, assassinado, Filipe Samuel Magaia, chefe do Departamento de Defesa e Segurança da FRELIMO, numa emboscada preparada pela facção de Samora Machel. Foi uma cilada na Província do Niassa, cujo executor foi Lourenço Matola, braço direito de Samora, que baleou Filipe Magaia, quando este tentava atravessar um riacho de madrugada. Lourenço Matola, após o crime, foi entregue à polícia tanzaniana. Nunca foi ouvida por moçambicanos a razão pela qual tinha cometido aquele crime hediondo, apenas Samora, Marcelino, Chissano e o próprio Mondlane sabiam desses motivos.Quando nós, os “Quadros” destacados para aquela missão de abertura de uma frente de guerra, recebemos tal bárbara notícia, tivemos uma queda de moral e a tristeza que se notava em todos os rostos. Não tínhamos outra saída senão a de permanecer com a facção, liderada por Samora Machel, para evitar o confronto entre combatentes.Aceitamos acatar as ordens do criminoso Samora Machel e seu grupo. A partir desse dia começamos a notar alterações no seio das estruturas da FRELIMO até ao 2º Congresso da Organização, realizado na Província do Niassa, Congresso que não foi nada pacifico. Desse Congresso quase surgiram duas FRELIMOS:
·       Uma, ligada a Eduardo Mondlane, Samora Machel, Chissano e Marcelino dos Santos, apoiados por uma facção de militares predominantemente Macondes;
·       Outra, dirigida por Uria Timóteo Simango (Vice-Presidente da “Velha FRELIMO”), apoiado por Nungo, Lázaro Kavandame, entre outros. Era a mais fraca porque a primeira tinha cortado praticamente todos os contactos entre Simango e os combatentes. Vivia em Dar-es-Salaam ou era confinado em Mbeya e por vezes deslocava-se ao estrangeiro.
 Essas duas divisões no seio da FRELIMO, evidentemente, não interessavam a ninguém, já que a luta pelo poder sobrepunha-se à luta pela independência. Foi isto que provocou a morte de Eduardo Mondlane e daí em diante a facção de Samora Machel ganhou mais força do que a de Uria Simango.
Com a morte de Mondlane, começámos a assistir a novas “cenas públicas”. Recordo-me que, quando estive, temporariamente, na Zâmbia em tratamento, após o ferimento que tive no primeiro combate em Tete, Samora apareceu em Lusaka com o seu braço direito, Alberto Joaquim Chissano. Estes começaram a destruir toda a obra de Uria Simango, desde documentos importantes sobre a criação da FRELIMO até às fotografias que se encontravam nas instalações da Organização.
De referir que por causa desses conflitos de luta pelo poder, Casal Ribeiro, que era adjunto de Filipe Magaia, também desapareceu “sem deixar rasto”. Este tinha sido um combatente bem notável. Foi ele que dirigiu as primeiras operações na zona de Mutarara, em Tete, operações que viriam a fracassar devido à falta de material bélico, isto em 1964.
Os crimes praticados dentro da FRELIMO tiveram cumplicidades dos governos Tanzaniano, com Mwalimo Julius Nyerere, e Zambiano, com Kenneth Kaunda, porque era nos territórios destes que eles eram cometidos! Por isso muitos moçambicanos pediram asilo no Kenya, no Uganda ou na Etiópia até aos dias de hoje.
 
(Excertos do livro a publicar)
Ovar, 4 de Janeiro de 2010
Álvaro Teixeira (GE)

 

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Sábado, 26 de Dezembro de 2009

Portugal País de homens sem HONRA e sem Vergonha que nunca julgou Rosa Coutinho e outros seus iguais.


 
domingo, 13 de Abril de 2008

Angola é nossa!

 

'Holocausto em Angola' não é um livro de história. É um testemunho. O seu autor viu tudo, soube de tudo


 

Só hoje me chegou às mãos um livro editado em 2007, Holocausto em Angola, da autoria de Américo Cardoso Botelho (Edições Vega). O subtítulo diz: 'Memórias de entre o cárcere e o cemitério'. O livro é surpreendente. Chocante. Para mim, foi. E creio que o será para toda a gente, mesmo os que 'já sabiam'. Só o não será para os que sempre souberam tudo. O autor foi funcionário da Diamang, tendo chegado a Angola a 9 de Novembro de 1975, dois dias antes da proclamação da independência pelo MPLA. Passou três anos na cadeia, entre 1977 e 1980. Nunca foi julgado ou condenado. Aproveitou o papel dos maços de tabaco para tomar notas e escrever as memórias, que agora edita. Não é um livro de história, nem de análise política. É um testemunho. Ele viu tudo, soube de tudo. O que ali se lê é repugnante. Os assassínios, as prisões e a tortura que se praticaram até à independência, com a conivência, a cumplicidade, a ajuda e o incitamento das autoridades portuguesas. E os massacres, as torturas, as exacções e os assassinatos que se cometeram após a independência e que antecederam a guerra civil que viria a durar mais de vinte anos, fazendo centenas de milhares de mortos. O livro, de extensas 600 páginas, não pode ser resumido. Mas sobre ele algo se pode dizer.

O horror em Angola começou ainda durante a presença portuguesa. Em 1975, meses antes da independência, já se faziam 'julgamentos populares', perante a passividade das autoridades. Num caso relatado pelo autor, eram milhares os espectadores reunidos num estádio de futebol. Sete pessoas foram acusadas de crimes e traições, sumariamente julgadas, condenadas e executadas a tiro diante de toda a gente. As forças militares portuguesas e os serviços de ordem e segurança estavam ausentes. Ou presentes como espectadores.



A impotência ou a passividade cúmplice são uma coisa. A acção deliberada, outra. O que fizeram as autoridades portuguesas durante a transição foi crime de traição e crime contra a humanidade. O livro revela os actos do Alto-Comissário Almirante Rosa Coutinho, o modo como serviu o MPLA, tudo fez para derrotar os outros movimentos e se aliou explicitamente ao PCP, à União Soviética e a Cuba. Terá sido mesmo um dos autores dos planos de intervenção, em Angola, de dezenas de milhares de militares cubanos e de quantidades imensas de armamento soviético. O livro publica, em fac simile, uma carta do Alto-Comissário (em papel timbrado do antigo gabinete do Governador-geral) dirigida, em Dezembro de 1974, ao então Presidente do MPLA, Agostinho Neto, futuro presidente da República. Diz ele: 'Após a última reunião secreta que tivemos com os camaradas do PCP, resolvemos aconselhar-vos a dar execução imediata à segunda fase do plano. Não dizia Fanon que o complexo de inferioridade só se vence matando o colonizador? Camarada Agostinho Neto, dá, por isso, instruções secretas aos militantes do MPLA para aterrorizarem por todos os meios os brancos, matando, pilhando e incendiando, a fim de provocar a sua debandada de Angola. Sede cruéis sobretudo com as crianças, as mulheres e os velhos para desanimar os mais corajosos. Tão arreigados estão à terra esses cães exploradores brancos que só o terror os fará fugir. A FNLA e a UNITA deixarão assim de contar com o apoio dos brancos, de seus capitais e da sua experiência militar. Desenraízem-nos de tal maneira que com a queda dos brancos se arruíne toda a estrutura capitalista e se possa instaurar a nova sociedade socialista ou pelo menos se dificulte a reconstrução daquela'.



Estes gestos das autoridades portuguesas deixaram semente. Anos depois, aquando dos golpes e contragolpes de 27 de Maio de 1977 (em que foram assassinados e executados sem julgamento milhares de pessoas, entre os quais os mais conhecidos Nito Alves e a portuguesa e comunista Sita Valles), alguns portugueses encontravam-se ameaçados. Um deles era Manuel  Ennes Ferreira, economista e professor. Tendo-lhe sido assegurada, pelas autoridades portuguesas, a protecção de que tanto necessitava, dirigiu-se à Embaixada de Portugal em Luanda. Aqui, foi informado de que o vice-cônsul tinha acabado de falar com o Ministro dos Negócios Estrangeiros. Estaria assim garantido um contacto com o Presidente da República. Tudo parecia em ordem. Pouco depois, foi conduzido de carro à Presidência da República, de onde transitou directamente para a cadeia, na qual foi interrogado e torturado vezes sem fim. Américo Botelho conheceu-o na prisão e viu o estado em que se encontrava cada vez que era interrogado.



Muitos dos responsáveis pelos interrogatórios, pela tortura e pelos massacres angolanos foram, por sua vez, torturados e assassinados. Muitos outros estão hoje vivos e ocupam cargos importantes. Os seus nomes aparecem frequentemente citados, tanto lá como cá. Eles são políticos democráticos aceites pela comunidade internacional. Gestores de grandes empresas com investimentos crescentes em Portugal. Escritores e intelectuais que se passeiam no Chiado e recebem prémios de consagração pelos seus contributos para a cultura lusófona. Este livro é, em certo sentido, desmoralizador. Confirma o que se sabia: que a esquerda perdoa o terror, desde que cometido em seu nome. Que a esquerda é capaz de tudo, da tortura e do assassinato, desde que ao serviço do seu poder. Que a direita perdoa tudo, desde que ganhe alguma coisa com isso. Que a direita esquece tudo, desde que os negócios floresçam. A esquerda e a direita portuguesas têm, em Angola, o seu retrato. Os portugueses, banqueiros e comerciantes, ministros e gestores, comunistas e democratas, correm hoje a Angola, onde aliás se cruzam com a melhor sociedade americana, chinesa ou francesa.



Para os portugueses, para a esquerda e para a direita, Angola sempre foi especial. Para os que dela aproveitaram e para os que lá julgavam ser possível a sociedade sem classes e os amanhãs que cantam.



Para os que lá estiveram, para os que esperavam lá ir, para os que querem lá fazer negócios e para os que imaginam que lá seja possível salvar a alma e a humanidade. Hoje, afirmado o poder em Angola e garantida a extracção de petróleo e o comércio de tudo, dos diamantes às obras públicas, todos, esquerdas e direitas, militantes e exploradores, retomaram os seus amores por Angola e preparam-se para abrir novas vias e grandes futuros. Angola é nossa! E nós? Somos de quem?


 

António Barreto - Sociólogo


 

 


 


 

 


 

 


 

 
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Terça-feira, 22 de Dezembro de 2009

Boas Festas e próspero Ano Novo

 


 


O Autor do Blog Grupos Especiais deseja a todos os  Combatentes GE,s e GEP,s e a todos os seu visitantes um FELIZ NATAL e um  ANO NOVO cheio de Paz, Tolerância e Solidariedade.

 

 

 

Ovar, 22 de Dezembro de 2009

Álvaro Teixeira (GE)

 

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Terça-feira, 15 de Dezembro de 2009

PORTUGAL - MOÇAMBIQUE. Que relações?


 


A ideia deste artigo poderá ser polémica, mas a intenção é mesmo essa.

Todas as antigas colónias portuguesas estão a estreitar o laços de relacionamento com a antiga potência colonizadora e, no caso de Cabo Verde, quer uma relação privilegiada com Portugal, tendo em vista uma relação mais estreita com a Comunidade Europeia. É claro que foi um país que ascendeu à independência sem recorrer à guerra, tal como preconizava Amílcar Cabral, também, para a Guiné-Bissau. As grandes dificuldades de relacionamento foram com Angola, que, neste momento, estão a ser completamente ultrapassadas, com os seus governantes a dispensarem a colaboração de outros países e a recorrerem, em massa, à colaboração portuguesa nos grandes sectores estratégicos da economia angolana. Já não é a mão de obra não especializada de que Angola necessita, mas sim de quadros especializados nos diversos ramos económicos. Angola é, neste momento, um dos grandes destinos dos portugueses.

 Moçambique é um caso mais complicado, dadas as influência recebidas durante a Guerra Colonial, às quais a Frelimo se manteve fiel, deixando que a  influência chinesa continuasse a dominar grandes sectores da economia do País. Há outra situação que o partido no poder continua a usar, como factor de coesão, que é o ódio contra a antiga potência colonial, que se começa a incutir logo na escola primária. É um facto que houve colonialismo em Moçambique, mas que não foi tão evidente como em Angola, no entanto, o poder aproveita essa situação como se de uma cola se tratasse, para unir as populações, partindo de premissas completamente falsas de que a miséria do País se deve aos portugueses e que é a Frelimo que tudo tem feito para melhorar as condições de vida e que cada vez irá fazer melhor. Seria bom que todos os moçambicanos entendessem que a estratégia seguida pela Frelimo (Samora Machel a Armando Guebuza) é que levaram à situação em que o País se encontra com a expulsão total dos portugueses e, com isso, do seu espírito empreendedor. Este êxodo dos portugueses levou ao colapso completo da economia moçambicana do qual, passados 35 anos, ainda não se vislumbra uma saída. O País é mal governado, a corrupção é devastadora e a falta de quadros continua a grassar em Moçambique. As últimas eleições não vieram clarificar a situação, antes, pelo contrário, vieram confirmar o que de pior se tem passado em Moçambique nestes últimos 35 anos, com a concentração do poder na Frelimo e, a partir de agora, com maioria qualificada na Assembleia da República o que lhe permite aprovar leis de alteração do regime sem ter necessidade de consultar outros partidos. Do meu ponto de vista, o resultado das últimas eleições constituíram um retrocesso democrático, tendo a Frelimo usado e abusado de todos os meios do estado para conseguir a maioria de dois terços na Assembleia da República, com a conivência de todas as estruturas que deveriam salvaguardar a democraticidade de todo o processo eleitoral. Pela frente, o Povo Moçambicano irá ter, pelo menos, mais cinco anos de frelimismo com tudo o que isso de mau acarreta.

Não vou falar agora da posição dos países doadores, porque isso será assunto para outro artigo.

 

Ovar, 14 de Dezembro de 2009

Álvaro Teixeira (GE)

 

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Quarta-feira, 9 de Dezembro de 2009

A MINHA VIDA DE GE – Parte 9 (O desaparecimento do furriel Belo)


 


Em Camberembera, no interior da picada para a Macosssa, estava estacionado o GE 913, comandado pelo Alferes Aveiro e pelos furriéis Belo e Viana Ferreira (este falecido há poucos anos, vítima de cancro). O reabastecimento deste Ge era feito através da Companhia estacionada no Fúdze, por viaturas, quando a picada estava transitável, ou a pé, na época das chuvas.

Num determinado dia de Dezembro de 1973, quando estávamos em plena época das chuvas, um pelotão do referido (o 913), comandado pelo furriel Belo, desloca-se ao Fúdze para se reabastecer de artigos de primeira necessidade. Num determinado ponto do percurso, depararam-se com aquilo, que, na época seca, nem chegava a ser um riacho, mas um pequeno sulco na picada, onde, por vezes, corria um fio de água. Nessa altura, nesse sulco corria muita água e a picada estava extremamente escorregadia. O furriel Belo não avaliou o perigo que corria ao tentar atravessar, sem quaisquer medidas de segurança e tentou meter-se à água. Foi alertado pelos seus soldados para o perigo que todos iriam correr, mas, mesmo assim, meteu-se a caminho. Escorregou e três soldados tentaram agarrá-lo. A tarefa foi impossível e todos os quatro foram arrastados pelas águas. A notícia chegou de imediato ao Fúdze e, com dois pelotões do meu GE, desloquei-me para o local do acidente, não para evitar o que quer que fosse, mas para, a partir daí, tentar encontrar os corpos naquela zona. Foram dois dias de angústia, porque, a não ser duas espingardas G3 e o Racal (rádio de transmissões), não encontramos qualquer corpo ou vestígios deles. Como o leito continuava a ser muito escorregadio, só nos restava seguir o percurso do mesmo, até encontrar algo.

A meio da tarde do segundo dia de pesquisas, deparámo-nos com algo inesperado e terrível. Aquela corrente de água ia desaguar numa lagoa, com uma dimensão de cerca de 5 a 6 mil metros quadrados e infestada de jacarés. Um quadro horrível e que não mais me saiu da memória. Sentei-me, por uns momentos e, dada a amizade recíproca, dei por mim a chorar a morte de amigo, porque era impossível era impossível chegar com vida àquele local e, mesmo que, por milagre, isso acontecesse, seria impossível escapar àquela imensidão de jacarés esfomeados e que passeavam pela água ou pelas margens da lagoa.

Para descarregar a consciência, voltei a percorrer o riacho, agora no sentido inverso, mas nada mais apareceu. Regressei ao Fúdze, onde cheguei já bem de noite, e informei o comandante da Companhia de todos os detalhes.

Fiz o relatório da operação e o furriel Belo e os seus três soldados foram dados como desaparecidos.

Uma história trágica de uma guerra sem sentido.

 

Ovar, 9 de Dezembro de 2009

Álvaro Teixeira (GE)    

 

publicado por gruposespeciais às 15:13
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