Quarta-feira, 4 de Novembro de 2009

MOÇAMBIQUE – O REGRESSO DO MONO-PARTIDARISMO (Eleições de 28/10/2009)

 



 


Em 09/06/2009, coloquei, neste Blog, um Artigo intitulado “Democracia em Moçambique caminha para o fim?”. Os elementos que, já na altura, possuía, pressagiavam um resultado, nas eleições realizadas em 28/10/2009 idêntico ao que se veio a verificar. A Frelimo conseguiu ultrapassar os dois terços de assentos na Assembleia Nacional o que condena os restantes partidos a meros espectadores de tudo o que se irá passar na A.M., nos próximos cinco anos.

Nesse mesmo artigo, o autor considerava que os partidos concorrentes às eleições não iriam ter as mesmas condições do partido no poder, pelo que seria impossível uma disputa verdadeiramente democrática, mas, pelo contrário, falseada à partida. Nessa altura ainda não se conheciam as “doutas” decisões de uma CNE, totalmente dominada pela Frelimo, nem da “sábia” decisão final da Comissão Constitucional. O que havia, na altura, eram unicamente presságios e talvez, um pouco, de futurismo, veio a confirmar-se com as decisões acima referidas e os usos e abusos dos meios do Estado em favor do partido que o gere, a Frelimo. As posteriores declarações de variadíssimos membros deste partido vieram a confirmar as piores previsões de que a máquina do Estado iria estar ao seu serviço. E foi o que aconteceu, além das imensa fraudes eleitorais praticadas na grande maioria das Assembleias de Voto.


O que é que Guebuza e a Frelimo irão fazer com esta maioria?

Aproveito para citar as palavras de um jovem moçambicano, que não votou e que, através do MSN, me transmitiu a seguinte afirmação: “ O meu pai é da Frelimo e o partido nunca iria perder as eleições, porque tudo isto é uma fraude imensa”. Isto são palavras textuais de um jovem que, ao não votar, faz parte daquela grande fatia dos 60% de abstencionistas que, por diversos motivos, não se revêem no actual sistema partidário existente em Moçambique. Por outro lado, este mesmo jovem disse-me: “nós, em África, votamos no poder”. Perante esta última afirmação, não valeria a pena a Frelimo entrar no jogo de fraudes, porque a vitória, mais ponto, menos ponto, estaria garantida, mas a Frelimo queria mais, queria o resultado que alcançou, ou seja, a maioria de dois terços na Assembleia da República nem que, para isso, tivesse que humilhar os seus adversários, como veio a acontecer, a fim de se ressarcir da derrota, que, do seu ponto de vista, foram os Acordos de Roma de 1992.


Dhlakama e a Renamo ( fim dos tempos?)

O mono partidarismo regressou em força. Será que vamos ter, novamente, “Campos de Reeducação” ou mais “Campos de Metelela, Lupilichi, Bilibiza e tantos outros”, para aqueles que se recusarem a aceitar este estado de coisas? Os mentores desses locais tenebrosos estão lá todos. Ou vamos voltar a uma nova guerra civil fomentada pelos veteranos da Renamo e mantida por parte dos 60% dos abstencionistas? O clima é favorável a situações de explosão, dado que 80% dos moçambicanos vivem em pobreza extrema e sabem que nada têm a perder com situações de revolta popular, como veio a acontecer com a guerra civil encetada pela Renamo em 1976 e o campo de recrutamento é imenso.


Um resultado para o futuro, mas muito aquém do esperado

O mundo ocidental tudo fará para que nada disto venha a acontecer, mas o primeiro passo está dado. Vamos aguardar pela tomada de decisão dos Países Doadores que são, em última análise, os responsáveis por este estertor da democracia multi-partidária, em Moçambique, ao não controlarem os fins a que se destinaram as suas doações.

 

Ovar, 3 de Novembro de 2009

Álvaro Teixeira (GE)

 

publicado por gruposespeciais às 01:36
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Domingo, 2 de Agosto de 2009

INCURSÃO NA SITUAÇÃO POLÍTICA ACTUAL DE MOÇAMBIQUE (2)

 


(…Continuação)

É nesta situação que se vão realizar as Eleições marcadas o próximo dia 28 de Outubro, com três candidatos: Afonso Dlakama (Renamo), Armando Guebuza (Frelimo) e Daviz Simango (MDM).

Se Moçambique não fosse governado por uma ditadura mascarada de democracia, certamente que haveria dois candidatos derrotados à partida, Afonso Dlakama e Armando Guebuza e um candidato vitorioso, Daviz Simango, pelas razões que passo a enunciar:

 

AFONSO DLAKAMA – 56 anos, casado, curso do ensino técnico (antigo 5º. ano), Tenente-General.

Este candidato tem a seu favor a luta que encetou, a partir da Gorongosa, contra o poder ditatorial, criminoso e terrorista do Samora Machel. Esta guerra civil que durou 16 anos, teve a força suficiente para encostar a Frelimo à parede, mas não teve a força política suficiente, para obrigar à partilha do poder, pelo que os Acordos de Roma, em 1992, não passaram de uma construção da tal máscara de democracia e de "seguro de vida para a Frelimo", que não possibilitaram à Renamo, passados todos este anos, constituir-se como alternativa de poder, não só por essa razão, mas, também, pela falta de quadros que pudessem levar por diante a sua implantação sólida no terreno e expandir as suas ideias. A Renamo nunca se conseguiu demarcar do seu carácter belicista e relegou para segundo plano as suas propostas políticas. Na actualidade, a Renamo está confrontada com grandes dissidências, no seu interior, baseadas, segundo o meu ponto de vista, por falta de liderança política, por um lado e não ser um partido do poder, pelo outro. Isto é um problema que ocorre nos partidos, cujos militantes não vislumbram qualquer perspectiva de poder, a curto ou médio prazos. Penso que a sua força eleitoral irá cair, muito, nas próximas eleições.

 

ARMANDO GUEBUZA – 66 anos, casado, curso do ensino técnico (antigo 5º. ano), Tenente-General.

No governo de transição (1974/1975), Guebuza ocupa a pasta da Administração Interna e, no primeiro governo de Moçambique independente, a pasta de Ministro do Interior. Foi nessa qualidade que emitiu a famigerada ordem "24 20". Essa ordem dava 24 horas a todos os residentes portugueses para deixar o país em 24 horas, não lhes sendo permitido levar mais que 20 quilos de bagagem. Foi o responsável pelo criminoso programa "Operação Produção" que deslocou, à  força centenas de milhares de moçambicanos considerados improdutivos para as zonas do norte do país menos habitadas, para aquilo que veio a ficar conhecido como os Campos da Vergonha, incluindo, limpezas étnicas, fome e a morte. Após a morte do Samora Machel, integrou a comissão de investigação ao acidente, mas não chegou a qualquer conclusão. Após Joaquim Chissano ter abandonado algumas práticas comunistas, Guebuza aproveitou a onda de privatizações na indústria, para se tornar num empresário poderoso, com a bênção do governo da Frelimo. Em 2004, ganha as eleições presidenciais, como candidato da Frelimo e é empossado em 2 de Fevereiro de 2005.

O passado deste candidato deveria fazer inveja ao Estaline e ao Adolf Hitler que cometeram crimes idênticos, mas, pelo que se sabe, nunca foram empresários à custa do partido.

 

DAVIZ SIMANGO – 46 anos, casado, Engenheiro Civil.

O actual presidente do Município da Beira é oriundo de uma família com tradições na história de Moçambique, de tal forma importante, que a Frelimo executou, da formal mais cruel, os seus pais em Netelela. As suas virtudes, como autarca e a sua juventude poderão constituir um grande capital de esperança para Moçambique e poderá conquistar votos e apoios, tanto da Frelimo, como da Renamo. O seu programa de governo representa um corte com o passado, embora, do meu ponto de vista, devesse ser mais arrojado, a começar pelo incentivo a uma economia familiar, que é base da riqueza de um país e que dê origem à criação de pequenas e médias empresas, começando pelo aproveitamento dos recursos naturais e que são muitos, nomeadamente com a distribuição e posse da terra a pequenos e médios agricultores, de modo a acabar com a colectivização comunista imposta pelo governo da Frelimo. Apostar no regresso ao país dos quadros da diáspora os quais, com a sua experiência, serão um motor do desenvolvimento de Moçambique e, muitos deles, afirmam que só regressam ao País, quando, nos órgãos de decisão, deixar de haver fardas militares, pelo que se impõe a desmilitarização do regime e entregar à sociedade civil todas as hierarquias da governação. Promover uma verdadeira reconciliação nacional, acabando com as doutrinas tribalistas e racistas em que se tem apoiado a Frelimo, cuja prática é “dividir para reinar”.

Para mim, pelo que é e pelo que representa, Daviz Simango é o futuro, ao contrário dos outros dois candidatos que representam o passado da guerra, da infelicidade do povo, do subdesenvolvimento e da pobreza.

O sangue derramado por heróis multiplica-se e faz nascer muitos mais heróis. Espero que isto se cumpra com o sangue derramado por Uria Simango e pela sua esposa, Celina Simango

 

 Estas fotos não são invenção de reaccionários, são obra da Frelimo. Qualquer semelhança com os campos de concentração nazis não será ficção. Tudo isto é real.

     

 

Para que não restem dúvidas, consultem algumas descrições em:

http://macua.blogs.com/moambique_para_todos/files/raptossimangogwenjere_savana1995.pdf

O Ministro do Interior, nessa altura, era o actual Presidente de Moçambique, Armando Guebuza.

Isto são crimes contra a Humanidade:


MINISTÉRIO DA SEGURANÇA

Ordem de Acção n. 5/80

De: Dl

Para: DB e o Chefe da BO

No espírito dos costumes, usos e tradições da luta armada de liber­tação nacional, o Comité Político Permanente da Frelimo julgou e condenou a morte por fuzilamento os seguintes desertores e traidores do povo e da causa nacional, que foram já executados:

Uria Simango

Lázaro Nkavandame

 Júlio Razão

 Nihia

Mateus Gwengere

Joana Simeão

Paulo Gumane

De forma a prevenir possíveis reacções negativas, internas ou internacionais que possam surgir em consequência da execução desses contra-revolucionários, o Comité Político Permanente decidiu publicar este acto como uma decisão revolucionária do partido Frelimo, e não como um acto jurídico.

É portanto necessário compilar um dossier declarando a comple­ta história criminal desses indivíduos, bem como suas confissões aos ele­mentos da DD/SI que os interrogaram, declarações de testemunhas, au­tos do processo e sentença.

Para além desse dossier, deve se fazer um comunicado que será lido pelo camarada Comandante em Chefe onde ele anunciará a execu­ção dos acima mencionados contra-revolucionários.

Foi decidido nomear um Comité para compilar o dossier e pre­parar o comunicado. O camarada comandante em chefe decidiu que o acima mencionado Comité será encabeçado pelo camarada SÉRGIO VIEIRA, e terá como membros adicionais os camaradas OSCAR MONTEIRO, JOSÉ JÚLIO DE ANDRADE, MATIAS XAVIER e JORGE COSTA.

A luta continua

Maputo, 29/7/80

O Ministro da Segurança

JACINTO VELOSO


 

Palavras para quê? Primeiro, mata-se, depois organiza-se um falso processo.

 

Álvaro Teixeira (GE)
publicado por gruposespeciais às 21:29
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Sexta-feira, 24 de Julho de 2009

INCURSÃO NA SITUAÇÃO POLÍTICA ACTUAL DE MOÇAMBIQUE

 


 

Moçambique, a Pérola do Índico  

Tenho acompanhado, com particular interesse, a actual situação política que se vive em Moçambique, quando o País está a cerca de 100 dias das eleições presidenciais que, provavelmente só provocarão uma grande alteração dentro da Oposição com a entrada do MDM para o lugar de maior partido da Oposição.

Depois de analisar toda a vasta informação que me tem sido enviada, esta poderá ser a última vitória da Frelimo, porque as grandes divisões existentes no seu seio, entre os novos quadros políticos e os quadros oriundos da luta armada, começam a extravasar para opinião pública melhor informada. Estes novos quadros estão à espera de uma forte votação no MDM, para encetarem um processo interno de Mudança, havendo, inclusive, alguns a fazer jogo duplo. Não perspectivo uma derrota da Frelimo, porque as condições, para que tal aconteça, estão muito longe de estarem reunidas. Alguns exemplos:

 

 FRELIMO, o passado, a estagnação e a pobreza

1 – O regime continua a ser uma ditadura, mascarada de democracia;

2 – Os militares radicais dos tempos do Samora Machel continuam a dominar o poder;

3 – A corrupção continua a dominar a economia do País e é fomentada pelos detentores do poder e que são os seus grandes beneficiários;

4 – Metade das Receitas do Orçamento Geral do Estado provêm dos estados doadores o que, na actual crise económica, poderá ter efeitos perniciosos na economia, porque se prevê uma assinalável quebra nessas doações;

5 – Grande parte dessas receitas não é aplicada no desenvolvimento do País, mas desviadas para outros fins, nomeadamente o enriquecimento fraudulento dos dirigentes da Frelimo;

6 – Toda a terra pertence ao Estado, da qual o Governo põe e dispõe, pelo que a iniciativa privada não existe ou é muito escassa;


 RENAMO, uma vitória militar que não conseguiu ser uma vitória política

7 – Todo o aparelho do Estado é controlado pela Frelimo e o apoio estatal às autarquias depende da sua cor política;

8 – O ensino oficial é baseado no racismo contra os brancos, especialmente, contra os portugueses, com argumentos impensáveis;

9 – O clima de medo está instalado em todo o País, especialmente, em Maputo, onde o assassínio de advogados é uma constante, pelo que a justiça é aplicada contra todas as normas do Direito Internacional;

10 – As eleições não são livres e, muito menos, democráticas. Além da “compra” de votos, há a intimidação, os votos que entram nas urnas sem que os eleitores votem, enfim, uma encenação da democracia.


MDM, a esperança, o futuro, a democracia e a liberdade

Perante este cenário, só resta à Oposição pedir a intervenção das Organizações Internacionais para supervisionarem o processo eleitoral e, depois, aguardar pelo processo de “autofagia” da Frelimo que poderá iniciar-se a qualquer momento, embora dependendo muito dos resultados eleitorais.

(Continua…)

NOTA: Na próxima Quinta-feira, 30/7, vou participar, na qualidade de ex-combatente, no programa "Destaques" da Rtv, das 16.00 às 17.30 horas. Este canal de televisão emite na posição 14 da Cabovisão Digital e na posição 21 da TvCabo. Espero colocar alguns excertos no Youtube.

Álvaro Teixeira (GE)

 

 

publicado por gruposespeciais às 23:21
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