Sábado, 9 de Maio de 2009

Olivença - Niassa - Moçambique (Conclusões)

 


 

Conforme referi em artigos anteriores, estive em Olivença pouco mais de seis meses, durante os quais nunca tive qualquer contacto com guerrilheiros da Frelimo, pelo que as minhas conclusões poderão não ser, completamente, objectivas, mas são, contudo, o fruto da minha experiência, enquanto lá estive:

 

1 – A nossa formação militar era extremamente deficiente, uma vez que nos era dada por Cabos ou Furriéis Milicianos, sem qualquer experiência em “teatros de operações”, pelo que de pouco nos servia a “Especialidade”, em Tavira. Os monitores deliciavam-se mais com os nossos “banhos” nas salinas, do que, propriamente, na instrução de combate anti-guerrilha, coisa que os instrutores desconheciam por completo (o comandante da minha companhia, em Tavira, capitão Falcão, gozava com as “carecadas” que aplicava e nunca o vi a dar instrução militar. Comandava pelo terror.);

2 – Conforme se pode ver no mapa, o Aquartelamento de Olivença constituía a posição mais avançada, a cerca de 30 quilómetros da fronteira com a Tanzânia e muito distanciada dos nossos postos de defesa mais próximos, Pauíla e Cóbue, pelo que nada impedia a infiltração dos abastecimentos da Frelimo aos seus guerrilheiros infiltrados no interior de Moçambique e evitar o contacto com as Nossas Tropas, a fim de não sofrerem baixas desnecessárias;


As setas a vermelho indicam as zonas de infiltração

3 – A Sul de Olivença não existia qualquer Aquartelamento, pelo que não foi difícil à Frelimo mostrar aos observadores internacionais aquilo a que chamava “Áreas Libertadas”, quando, na realidade, eram zonas despovoadas, tal como era quase todo o Niassa. Tive ocasião de verificar, nas diversas vezes que sobrevoei aquela zona, a ausência de quaisquer aglomerados populacionais ou, a existirem, estavam bem camuflados;

4 – Olivença estava, assim, completamente isolada e as armas de defesa do Aquartelamento eram poucas e de eficácia duvidosa, em caso de ataque, em massa, pela Frelimo. As operações no mato obrigavam a percorrer distâncias enormes até às zonas de infiltração e as nossas movimentações eram, facilmente, detectadas pela Frelimo, pelo que, para os seus guerrilheiros, não constituíamos qualquer perigo, porque tinham uma vasta área para se movimentarem. Outro constrangimento era a travessia do Rio Messinge, feita de bote de borracha o que constituía um outro perigo, já que era feita, sempre, no mesmo local e que poderia ser aproveitada pelos guerrilheiros da Frelimo, para provocar sérios danos às Nossas Tropas;

5 – Nestas circunstâncias, a única forma possível, seria o transporte aéreo das Nossas Tropas para as zonas de intervenção o que, além de constituir uma posição de força perante o inimigo, permitiria cair-lhes em cima, quando menos esperassem. Esta era a táctica das milícias do Daniel Roxo que eram transportadas em helicópteros, com eficácia que daí resultava;


Foto tirada no nosso "aeroporto", com a "aerogare" ao fundo

6 – Todos tínhamos a noção das limitações materiais das nossas Forças Armadas, especialmente, na Força Aérea e no Exército, que lutavam com falta de meios e com militares pouco instruídos para a luta de guerrilha e a inexistente preparação psicológica nas fases iniciais da carreira militar que ajudassem a diminuir os traumas que a Guerra Colonial provocavam na população portuguesa;

7 – Em reforço do que acima referi, relativamente à inadequada preparação militar, que nos era ministrada nos tempos de Recruta e Especialidade, apresento o caso dos Grupos Especiais, que eram preparados, nas diversas áreas, por graduados com experiência de combate e que, por e esse motivo, eram considerados autênticas “Máquinas de Guerra”;

8 – Poder-se-á argumentar que, passados 35 anos, é fácil chegar a estas conclusões, mas não nos podemos esquecer que as nossas Forças Armadas eram comandadas por Generais que deveriam saber o terreno que pisavam, conhecer a experiência dos EUA na Guerra do Vietname e, fundamentalmente, as movimentações geopolíticas da URSS e da China e as suas influências nos chamados “Movimentos de Libertação”;

9 – A nossa situação interna, também, não ajudava nada, dada a doutrina do regime ser: “Uma nação de Lisboa até Timor”. Por este motivo, morreram muitos dos nossos militares, sem que o regime ditatorial mudasse uma vírgula no seu discurso oficial e sem que, em devido tempo, iniciasse um verdadeiro Processo de Autodeterminação, como preparação para a Independência;

10 – Por último, quero lembrar que, em Olivença, os nossos militares, sempre, conviveram muito bem com a população e havia colaboração mútua. Nunca nos portamos como uma  “força de ocupação” e nunca se cometeram quaisquer sevícias contra os seus habitantes, que nos consideravam uma força de protecção contra aquilo a que eles chamavam “bandidos”. O povo de Olivença não estava com a Frelimo.

 

A "queca" do Boticas. O Noronha, Eu e o Oliveira

Desta forma, dou por terminado o trabalho sobre o tempo que passei em Olivença, muito embora, fiquem por relatar pequenos factos sobre a nossa vida no Aquartelamento, tais como as noites passadas no nosso “parrô” a cantar ao som da viola do alferes Oliveira ou forma como conseguimos que “Boticas” conseguisse dar uma “queca” com uma cadela mais alta do que ele.

Estou à espera que me enviem, de Moçambique, uma fotografia da actual Olivença. Logo que a receba, publicá-la-ei neste Blog.

 

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publicado por gruposespeciais às 22:55
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